Leblon: Teste mostra que wi-fi gratuito do estado só funciona bem em duas de nove áreas
sexta-feira, 10 de agosto de 2012“Não foi possível se conectar”. A mensagem aparece na tela de celulares e de computadores de quem tenta usar a internet em vários lugares do Rio que têm wi-fi gratuito do governo do estado. Apesar de o projeto Rio Estado Digital garantir que é possível acessar de graça a rede em 16 áreas — como as comunidades da Rocinha e do Dona Marta, além da orla de Copacabana, Ipanema e Leme — e, parcialmente, em seis cidades da Baixada Fluminense, a realidade é bem diferente. Com um smartphone em mãos, repórteres do GLOBO testaram a rede em nove pontos. Em mais da metade, foi impossível se conectar: não havia sinal na Rocinha, em Ipanema, no Leblon, nem nos Morros do Adeus e Baiana, no Complexo do Alemão. Na área do Porto, a rede só funcionou num pequeno trecho da Rua Barão de Tefé. Na Avenida Presidente Vargas, a lentidão chamou a atenção: foram necessários três minutos para conseguir abrir um site de notícias. O serviço só funcionou bem no Morro Dona Marta, em Botafogo, e na Praia de Copacabana.
Na Rocinha, José Carlos Tavares, funcionário de uma loja de informática, contou que a rede gratuita não funciona há quase um ano:
— No início, era devagar, não funcionava em todos os lugares, mas existia. Agora, não pega em nenhum ponto.
No Morro do Adeus, um dos locais que ganharam internet gratuita no início do ano, a estudante Raiane Martins nunca teve sucesso.
— Já tentei, meu irmão e minhas amigas também, mas é impossível.
Na Praia de Ipanema, a turista Marlene Farias , do estrado do Rio Grande do Sul, era ontem uma frustração só. Ela queria postar numa rede social a imagem da orla que tinha acabado de registrar em seu celular, mas não conseguiu o acesso gratuito.
— Tentei, mas não deu nem sinal da rede. Eu posso acessar a internet da minha operadora, mas um turista estrangeiro fica sem opção — lamenta.
Os problemas com o Rio Estado Digital começaram quando a gestão da rede, feita por empresas contratadas por universidades, passou para o estado. A Secretaria de Ciência e Tecnologia deveria ter feito licitações para escolher quem daria continuidade ao serviço, mas isso só foi feito, e com atraso, para as áreas de Copacabana, Cidade de Deus e Dona Marta. O resto da cidade e a Baixada Fluminense estão recebendo atualmente suporte técnico apenas de seis especialistas da Faetec.
Diretor técnico da Mibra Engenharia, contratada pela PUC-Rio para instalar o sistema na Rocinha e fazer sua manutenção por um ano, Newton Trindade conta que os equipamentos da comunidade custaram cerca de R$ 1,5 milhão, mas estão sem suporte técnico adequado porque o contrato não foi renovado:
— Como temos equipes no Dona Marta, quando dá um problema simples na Rocinha, vamos lá tentar dar um jeito, mesmo sem receber. Mas, se o problema for sério, se for preciso trocar um equipamento, por exemplo, não temos como ajudar.
A Mibra agora assumiu a manutenção do wi-fi da orla de Copacabana, que ficou quase um ano sem suporte técnico, desde que o contrato da própria Mibra com a UFRJ expirou. A universidade foi uma das contempladas com recursos da Fundação de Amparo à Pesquisa do Rio de Janeiro (Faperj), que destinou, de 2008 a 20111, R$ 18 milhões a projetos ligados à área digital e que precisavam fazer testes em redes wi-fi de grande extensão. O sistema de Copacabana, por exemplo, foi criado para servir a uma pesquisa da Coppe que tinha como meta melhorar a qualidade de vídeos exibidos a grande quantidade de pessoas ao mesmo tempo. O pesquisador responsável recebeu quase R$ 1 milhão para fazer o projeto — incluindo o wi-fi gratuito — que serviu a fins científicos e aos cariocas por um ano. Ao término do prazo, a universidade repassou os equipamentos para o estado:
— Transferimos todo o patrimônio, toda a rede para o estado, que não licitou uma empresa para fazer a manutenção imediatamente. Um outro pesquisador implantou a rede em Ipanema, e ela nem funciona mais. É uma pena se não levarem o projeto adiante. Era a maior rede wi-fi urbana gratuita do Brasil — diz o pesquisador Cláudio Amorim, da Coppe.
Segundo a Faetec, atual responsável pela rede, será feita uma licitação para escolher as empresas que darão suporte técnico ao sistema implantado na Rua Teresa, em Petrópolis, na Vila Militar, em Manguinhos, Rocinha, Pavão/Pavãozinho, Ipanema, Leblon, Morro da Providência, Porto e Alemão. Ela está prevista para a primeira quinzena de agosto.
Segundo a Faetec, três pontos apresentaram problemas recentemente na Rocinha. Os equipamentos queimaram e serão trocados até sexta-feira. No bairro de Ipanema e no Leblon, houve o rompimento de cabos de fibra ótica. A Faetec já comprou novos, que serão instalados nos próximos dias. A previsão do retorno do sinal nesses dois pontos é de até 20 dias.
Fonte: Jornal Extra